quinta-feira, 22 de março de 2012

A influência da música na sociedade


(Neto Lobo e a Cacimba - Uma grande banda baiana, com música em Malhação)

Houve um tempo em que escutava-se nas rádios, dos alto falantes das ruas de cidades do interior, da vitrola tocando na vizinhança, canções bem elaboradas. A música libertava a poesia no ar. Transmitia os sentimentos dos seres humanos. Era feita para reflexão, relaxamento e alegria saudável. Não instigava a violência, o sexo vulgar nem o uso das drogas.
“Falam as rosas,
Mas que bobagem
As rosas não falam
Simplesmente as rosas exalam
O perfume que roubam de ti”
(Cartola)
Os tempos mudam e da imortal músico-poesia de Cartola, chegou-se aos corajosos artistas da época da ditadura militar, como Geraldo Vandré, que foi torturado por causa do teor revolucionário da sua música. Em “Para não dizer que não falei de Flores”, coloca de forma poética a necessidade de lutar contra a opressão:
“Vem vamos embora
Que esperar não é saber,
Quem sabe faz a hora,
Não espera acontecer”.
A música podia ser um quadro na nossa mente, uma fotografia de paisagem, como em “Aquarela” de Toquinho. Com o rock ocupando um espaço, as letras eram inteligentes, preparadas para levar a juventude a pensar. Rita Lee soube descrever o verdadeiro amor com maestria, em canções como “Mania de você”, onde o sexo não tinha tratamento vulgarizado. Os Titãs eram ousados, inteligentes e irônicos, mas faziam pensar. “Cabeça de Dinossauro” foi um bom disco. Cazuza com “Ideologia”, “O tempo não pára”, “Burguesia” marcou época. O Legião Urbana e o imortal Renato Russo foram geniais. Quem não gostasse do som do rock, poderia muito bem ler as letras e sair pelo menos pensando.
Mas os tempos mudaram. A Bahia que tinha expressões fortes na música de Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa, Novos Baianos. Musicalidade total na guitarra elétrica de Armandinho e Pepeu Gomes. Letras legais de músicas no carnaval:
"Beijo na boca,
Seu corpo no meu, suado.
Tem sabor de pecado... (Netinho)
Ou
"No silêncio da noite abro a janela do meu quarto
Me debruço nela, me debruço nela
Tu és testemunha de que realizo um diálogo
Com as estrelas, com as estrelas, com as estrelas..." (Julinho)
"Pombo correio, voa ligeiro
Meu mensageiro e essa mensagem de amor
Leva no bico que eu aqui fico esperando
Pela resposta que é pra saber
Se ela ainda gosta de mim..." (Moraes Moreira)
Artistas dos quais sentíamos orgulho!
Hoje a Bahia vem se tornando palco e símbolo de uma “nova arte”, a arte de emburrecer, onde as letras de música não passam de frases desconexas que vulgarizam a mulher (“Boquinha da garrafa”), alimentam o preconceito contra quem não possui um padrão de beleza norte-americanizado (como em “Toda metralhada”, “Sai canhão”), incentiva a violência (“Tapa na cara”) e vulgarizam o sexo, retirando-lhe a poesia.
E essa nova arte vem tomando conta do país, pois o funk carioca que já foi música de protesto, agora é representado por figuras que além de cantar mal, não ter expressão nenhuma em palco, falam de sexo sem as sutilezas que o tornam atraente.
Isso não podia ser diferente a partir do momento em que música foi percebida como um instrumento transformador. Políticos, empresários e radialistas inescrupulosos passaram a utilizá-la com o objetivo de fazer mexer e não pensar, implantando um subcultura para empobrecer quem poderia pensar. Quando as rádios, segundo contam, só tocam a música de quem paga, o ouvinte é obrigado a escutar qualquer coisa e não o que realmente há de positivo e criativo no mercado. Os músicos viraram objetos descartáveis e muita gente boa está sem espaço na mídia. Os empresários que estão por trás disso, devem estar apostando na despolitização da juventude. Eles preferem que os jovens sejam levados à prostituição do que ao ato de pensar. É a mesma política de alienação que não dá direito aos pobres de terem escolas decentes para não ir contra o sistema. Se chamar uma mulher que não é bonita de “canhão”, é uma forma divertida de tratar a coisa, o desrespeito racial, contra o idoso, contra o pobre pode sair das letras e passar também a ser uma forma “divertida” de agir no mundo. E as campanhas pelo respeito às diversidades não serão levadas à sério!
É preciso combater essa imposição dos empresários do mercado musical. A internet torna-se uma opção para quem busca o que é bom. Novas bandas surgem e ganham espaço na rede. O Teatro Mágico, A Fresno, A Cacimba e outras vão crescendo e ganhando público fora das rádios. Ainda existem emissoras que tocam boas músicas. Divulga-las e difundi-las é fundamental. E tudo isso deve ser feito antes que a Bahia deixe de ser o celeiro das artes e passe a ser o cenário do fútil, do vulgar, do ridículo. Antes que a coqueluche da anti-arte cresça como um câncer pelo país e nos torne a nação dos sem cérebro, mexedores de bunda.

Kalila Pinto

A Arte de Ser Mãe

 Apresentação no Clube Barbixas de Comédia - São Paulo